quinta-feira, 13 de maio de 2010

RESUMO DO CAPÍTULO 1

CAP 1 – GEOGRAFIA, HISTÓRIA E HISTÓRIA DA GEOGRAFIA

• Iniciar distinguindo  história e geografia
• Evitando o fascínio do empirismo historiográfico para levantamentos empíricos da história da geografia no Brasil
• Recusar de imediato as visões tradicionais:
 “geografia como introdução da história” (historiadores); concepção de Herder da Terra como palco das ações humanas
Problemas:
Geografia como anteato da história; geográfico confundido com o natural
 “geografia como história do presente” (geógrafos)
Problemas:
Geografia como realidade pós-histórica, atualidade só apreensível funcionalmente, escapando à reflexão da história
• Urge, portanto, repensar as articulações entre a história e a geografia através de questões de fundo:
 A história da geografia estudada na ótica disciplinar de um historiador seria igual a conduzida por um geógrafo?
 Qual o papel da história em uma teoria geral da geografia e o papel da geografia em uma teoria geral da história?
 As mediações geográficas e históricas tem o mesmo peso na explicação da história e da historia da geografia? Por que?
 Respostas devem ser no plano dos métodos
 Emerge a questão conceitual, tratada com certa liberalidade/confusão ontológica nos estudos da história da geografia do Brasil
 Ora se enfoca a construção da geografia material do território;
 Ora são os discursos construídos sobre esse processo
 Ou a linguagem da qual são portadores.
• Para abrir a discussão, algumas posições teóricas e indicações analíticas com que trabalha:
1. universo da história muito mais amplo que o da geografia (a geografia como um produto da história)
 a geografia material objetivada no espaço terrestre e o discurso geográfico sobre tais realidades como explicáveis pela história; a historicidade como caminho do entendimento dos objetos e processos espaciais, o que inclui a geografia;
2. por geografia deve-se diferenciar:
• a apropriação e a produção do espaço
• das representações elaboradas pelas sociedades acerca dessa realidade (o discurso geográfico).
• Sendo a valoração simbólica do espaço um momento de sua valorização material, em uma dialética que cabe desvendar.
3. os discursos geográficos variam por lugar, sociedade e época, engendrados por mentalidades vigentes (qualquer leitura da paisagem ou produção de texto sendo densa de uma temporalidade própria)
• portanto em qualquer período da história e qualquer agrupamento humano existe uma geografia (material e discursiva), sendo necessário diferenciar e historicizar as culturas para bem contextualizar suas geografias.
• Várias são as maneiras de diferenciação:
1. a distinção entre o saber popular (conhecimentos geográficos do senso comum e dos povos sem escrita)
2. do saber erudito (amparados em registros, seguindo normas e padrões hegemônicos determinados historicamente.
• A designação “filosofia”  escritos de maior densidade lógica e reflexiva da cultura ocidental
• Já “ciência” é uma forma mais tardia de apresentação do conhecimento legítimo associada à emergência do capitalismo, sendo resultado e alavanca da modernidade
• Portanto discutir o discurso geográfico enquanto ciência é uma delimitação bem restritiva em termos históricos e culturais, excluindo as geografias espontâneas do cotidiano e o saber geográfico contido em mitos e na literatura
• Trabalha-se então somente com o pensamento ocidental a partir do final do século 18
• Mesmo assim o pensamento geográfico emerge de diversos campos disciplinares, sendo um possível delimitador a utilização do termo “geografia”, “na autolocalização das obras, dos autores, das teorias e das instituições que comporiam a comunidade dos ‘geógrafos’”
• Surge então uma “geografia científica” ou “moderna” no final do século 18, com variadas fontes e influências, a maior parte extrageográficas, que a partir de então passa a ser a “geografia”.
• É essa proposta de geografia-ciência que se difunde com a ocidentalização do mundo, o que, porém, não abarca todas as possibilidades do discurso geográfico como ciência
• Assim, pode-se analisar a “geografia moderna” como o projeto de um campo científico singular, com história própria, que se legitima e se institucionaliza de diversas maneiras que variam de país a país, porém remetendo a filiações e paradigmas comuns que conformam um corpo de especialistas (comunidade ou corporação) que cria e implanta estratégias de reprodução.
• Uma característica é a formação de escolas nacionais de geografia, com uma leitura nacional de seu próprio espaço e do mundo
• Em casos de países que tiveram dificuldades em se constituir enquanto Estado, a geografia nacional acaba servindo como mecanismo de legitimação (caso da Alemanha)
• Nos países centrais, ao longo do século 20, a geografia, ao lado da história, passa a ser uma das disciplinas básicas para a legitimação do Estado através do estudo do território, constituindo-se a idéia de “povo”
• Também serviu para municiar o Estado com informações e interpretações que o capacitava para decisões locacionais e geoestratégicas, com a geografia estando presente nos órgãos diretos de gestão política, logística e militar.
• Assim os interesses de cada Estado se expressam em suas geografias (Gottmann)
• A demarcação de fronteiras é exemplo dos interesses envolvidos com a tentativa (ideológica) de sacralizar a “fronteira natural” (fora da história). Na prática a maioria das fronteiras foram definidas militarmente, com a geografia, muitas vezes, servindo para legitimar tais fronteiras.
• Mas a geografia também recria o mundo através se sua própria cultura, embutindo, muitas vezes, projetos de relação e de dominação, com cada país do centro construindo sua geografia do mundo projetando interesses de expansão territorial e um discurso geográfico legitimador de tais interesses (geografias coloniais)
• Nesse caso a teoria evolucionista da história (da qual a geografia é herdeira) é a mais bem sucedida teorização sobre as desigualdades entre as culturas, mostrando-a como um percurso único da barbárie à civilização
• Também as religiões tiveram papel destacado na difusão e consolidação de hierarquias entre lugares e sociedades, pois na expansão colonial o missionário se fez acompanhar pelo soldado e pelo comerciante
• A relação entre a geografia européia e o colonialismo do século 19 é siamesa, gerando um levantamento exaustivo dos lugares do mundo extra-europeu, identificando riquezas potenciais, caminhos e obstáculos à penetração colonial
• Já as geografias produzidas nas colônias respondem a outros interesses, o que não nega relações e intercâmbios de parte a parte, com as metrópoles determinando o padrão culto, muitas vezes imposto sob a forma de auxílios e bolsas aos geógrafos do 3º Mundo.

Geografia no Brasil ou geografia brasileira (distinção a problematizar, objeto do autor)
• Centralidade da geografia como prática material na vida social das formações coloniais em geral e do Brasil em particular, pois a expansão territorial e o domínio de espaços está na própria natureza dessas sociedades (pecado original das colônias)
• A condição periférica marca profundamente a história brasileira em todas as dimensões, que se traduz na periódica necessidade de ajustes internos aos padrões e ritmos do centro da economia-mundo capitalista
• Esse caráter reativo também se manifesta como condicionante histórico no campo das idéias e das mentalidades, gerando uma cultura erudita que tem seus parâmetros e conteúdos definidos no exterior
• Nesse quadro começa a se delimitar um campo geográfico no século 19, ainda sem uma identidade disciplinar, mas refletindo as idéias européias da geografia moderna
• Da necessidade de legitimação com a independência do país, na dificuldade de identificação como nação utiliza-se o discurso geográfico que usa o território como o centro de referência da unidade nacional, sendo o povoamento a tarefa básica na construção do país
• A partir de 1930 institucionaliza-se o campo disciplinar, com a fundação do Conselho Nacional de Geografia, do IBGE e da AGB, que porém não esgotam as possibilidades de formulação de ideologias geográficas
• Aqui retoma plenamente seu sentido a distinção entre “pensamento geográfico” e “geografia”, abrindo caminho para dois campos de pesquisa:
1. uma história das idéias geográficas no país (mais genérica) com argumentos provenientes de fora da geografia, do pensamento social brasileiro, com discursos e reflexões sobre o território e a geografia
2. uma história da institucionalização da disciplina geografia
• os campos são pouco explorados e recomenda-se o rigor historiográfico e aprofundamento metodológico como antídotos para abordagens pseudo-filosóficas.

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