quarta-feira, 16 de junho de 2010

RELATÓRIO DA REUNIÃO DO DIA 14.05.2010

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO DIA 14/05/2010
ELABORAÇÃO: TIAGO DOS REIS ROCHA


Estudamos e discutimos, o capítulo III da obra Território e História no Brasil, de Antônio Carlos Robert Moraes, intitulado Estado e Território Numa Perspectiva Histórica. Onde o autor faz uma leitura da constituição dos estados nacionais, por meio de processos históricos, que se engendraram por meio da ação humana, em especial na ação, e na organização política, que se estabeleceu em consonância com projetos e interesses econômicos e culturais, num processo diacrônico e dialético, estabelecendo o que denominou de “formação territorial”.
Feita a abertura dos trabalhos, seguindo a solicitação do Prof. Marcelo Werner, foi lido o relatório dos trabalhos do dia 07/05 pela participante Ana Carolina.
Em uma ponderação relativa ao relatório, reivindicou-se um maior detalhamento do “calor das discussões” feitas, embora, chegamos à conclusão, que o trabalho do relatório passa ainda por um processo de aperfeiçoamento.
Mediante a ausência dos relatores, devido ao ocorrido da desistência de duas participantes na reunião anterior, o professor sugeriu uma dinâmica diferente, mediante a uma leitura conjunta, seguida de pausas para discussões e comentários. Foi sugerido a Hamilton que iniciasse a leitura do Capítulo III da obra, fazendo essa assim de maneira dirigida, sendo solicitado ainda ao mesmo que fizesse uma síntese do parágrafo lido. Alguns outros participantes deixaram suas contribuições nessa primeira pausa, e o professor posicionou-se, concluindo-se que o Estado é um elemento político e territorial. Foi colocado, ainda, a questão do papel das forças armadas, para afirmação das soberanias nacionais, muito sintetizada no conceito de “dissuasão” militar.
Em seguida foi posto em pauta nesse objeto de estudo uma espécie de “casamento” entre o território com o Estado, onde nessa relação, se espacializa a questão do Estado, trazendo-o para Geografia, diferentemente das abordagens do Estado, específicas da Ciência Política, mais relacionadas as “teorias” do Estado e a sua esfera institucional.
Entrou no debate a questão do papel da História no estudo da Geografia, que contribui no sentido de possibilitar o estudo dos processos que desencadearam a conformação territorial dos Estados, quebrando-se a visão pragmática que reduzia o Estado a uma espécie de “coisa dada”. Além de ter sido alertado a necessidade de se diferenciar território de história territorial.
Foi colocado ainda, a questão da “tríplice repartição do objeto geográfico” em Ratzel, ressaltando o papel dos agentes sociais na constituição do território.
Solicitou-se em seguida a definição do que seria a escola possibilista, citada no texto, e a relação dela com a escola determinista. Logo sendo pontuada na discussão envolvendo a contribuição de quatro ou cinco participantes, mas o professor, de que se tratava da escola francesa, liderada por Vidal de La Blache, interessada em dar respostas à escola alemã, batizada pelos franceses de “determinista”, iniciada em Friedrich Ratzel, onde no plano de fundo dessas discussões, estavam “questões nacionais”, envolvidos em conflitos de delimitação de fronteira, como a Guerra Franco-Prussiana, e a emergente Primeira Guerra Mundial, tendo, portanto, a Geografia, empenhado papel importante nesse embate. Sendo a Alemanha um país recém unificado com Bismarck, com pretensões expansionistas, ao passo que a França, encontrava no estudo de conceitos geográficos, como as regiões “vidalianas” com o seu “gênero de vida” a tentativa de defesa para regiões fronteiriças cobiçadas pelos alemães como a Alsacia-Lorena.
Outra questão que surgiu, foi o fato da dita Geografia Tradicional, ter feito “tabula rasa” do papel histórico das delimitações territoriais, restando a essa abordagem o resgate feito pela Geografia Política.
Foi pontuado que o percurso do pensamento geográfico-histórico, ganhou respaldo com o surgimento da Geografia Crítica, trabalhando a relação sociedade-espaço. Onde passou a se buscar o desenvolvimento da Geografia, por meio de sua gênese.
Na oportunidade o participante Hamilton, contribuiu com o exemplo da ampliação do terreno da UFF, adquirido em meio uma disputa eleitoral para reitoria, onde acabou se tornando promessa, cumprida de um dos candidatos, possibilitando a UFF de Campos, conquistar o seu “espaço vital” fundamental para a atual expansão que está se processando.
Com efeito, tal exemplo, no aspecto das correntes do pensamento geográfico, corroboram com a superação da Geografia Descritiva, que não se preocupava em problematizar os processos sociais, as intervenções humanas, empenhadas na configuração espacial, que agora passou a ser valorizada.
O professor, perguntou aos alunos, sobre a questão do dado “sincrônico”, onde na ausência de resposta objetiva, pontuou que tal abordagem diz respeito às “periodizações”, normalmente respaldadas em eventos sociais, como a feita por Eric Hobsbawn na obra “A Era dos Extremos”, como sendo o “breve século XX”, de 1914 a 1991, devido a 1º Grande Guerra, e a queda do socialismo real.
Entrou na discussão em seguida o aspecto da denominada “formação sócio-espacial”, ou “formação espacial”, definida por Milton Santos, que seria uma espécie de aplicação a Geografia, do conceito marxista de “formação econômica e social”, baseada na relação dialética da infra-estrutura (economia) com as superestruturas (esfera ideológica-cultural e jurídica-política) conformando as três instâncias colocadas por Robert Moraes, como sendo a econômica, a política, e a cultural, que compõem o que o autor denomina de “formação territorial”. Conceito que de certa forma retoma o Capítulo II, quando busca “substituir o impreciso conceito de espaço, pelo preciso “território”.
Nos foi, colocado o desafio de identificar na idéia do autor a similaridade ou não do conceito de formação espacial, com o de formação territorial, onde em particular, apostei na leitura do capítulo anterior, que deveria ser a mesma, mas amparada numa atenção especial ao elemento político, mesmo com o uso teórico da dialética, que como na discussão anterior, não poderia ser reduzida a um “determinismo econômico”.
Surgiu também na discussão brevemente, a idéia de “territorialidade do tráfico”, por meio de seu “poder paralelo”.
Tratou-se em seguida da idéia de construção “diacrônica”, baseada na idéia de um “eixo das sucessões”, sendo essa a utilizada por Moraes, diferente da “sincronia”, respaldada no “eixo de coexistências”, utilizada por Santos.
Em seguida, fizemos uma pausa para o intervalo. Ao retornarmos, entendemos pelo adiantado da hora a necessidade de uma leitura com menos interrupções para as discussões, as quais, tivemos mais umas quatro. Após a primeira leitura, o professor interveio, abordando na leitura o aspecto da temporalidade. Em especial na leitura, do caso europeu com o surgimento dos estados nacionais, além de destacar a discordância do autor com a idéia antropológica de território cultural, onde aproveitei para exemplificar o caso da demarcação de reservas indígenas, que não segue a mesma lógica da sociedade racional moderna.
Mencionou-se ainda a definição das escalas geográficas, onde o autor priorizou pela escala nacional, priorizando a esfera política.
Após mais um bloco de leituras, foi abordado a aspecto da economia mundo, como sendo algo que funciona no mundo inteiro, onde sobrou certa crítica ao autor, por uma abordagem parcial do conceito de Immanuel Wallerstein, onde entendemos que se deu dessa forma, por não ser o objeto central de seu trabalho. Na oportunidade discutimos o papel da dinâmica econômica, ser ou não, eminentemente questão de mercado, devido ao fato de se operar através do aval dos estados nacionais. Onde na oportunidade foi mencionado ainda pelo Hamilton, o apelido dado ao “porto chinês do Açu”, com seus navios “jong jong”, paradoxalmente construído pelo capital privado nacional.
Em seguida procedemos mais uma parte da leitura, onde se destacou a questão do estado absolutista, como necessidade de centralização, capaz de derrubar o sistema feudal, onde ainda o território, pôde ser visto como o “segundo porto do rei”, sendo porém, do Estado, e público.
E trabalhou-se sobre a especificidade (alteridade) de cada estado nacional, com sua forma de evolução.
Por fim, após procedermos a leitura das últimas páginas do texto, foi destacado por mim, a precisão do autor na abordagem dos estados multi-étnicos, que não representavam uma coesão nacional, portanto o Estado, não seria exatamente a materialização da nação, devido a questão das múltiplas identidades nacionais, onde demos vários exemplos, como o da antiga Iugoslávia, e o da ex-URSS, ou ainda de estados ainda muito artificiais, como a Espanha, imersa em movimentos separatistas, e/ou de reivindicação de identidade regional, ou os países africanos, construídos na ótica européia, repletos de tribos antagônicas convivendo num mesmo Estado.
Logo após foi passada a palavra ao comentador Alexandre, que destacou a idéia de síntese do autor, definindo o Estado, por suas dimensões política, econômica, militar, cultural, ideológica, etc, onde conseguiu estabelecer um paralelo com a idéia dialética antes exposta, de formação espacial, ou territorial. Onde na discussão que se desdobrou enfatizamos o caráter diacrônico de sua abordagem, que foi sendo construída, nos três capítulos estudados, onde avançaremos agora ao quarto, onde aplica tais conceitos a configuração do território brasileiro, a começar na colonização.
Em seguida encerramos as atividades da tarde, com uma breve seção de fotos do grupo de estudos.


Campos dos Goytacazes, 14 de maio de 2010.

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